segunda-feira, junho 26, 2006

A Guerra das Camisas.


Eu estava obcecada pelas camisas da Antarctica e não ia desistir fácil. Não ia mesmo. Pois então. Eu e Bonitinho acordamos 6h30, tomamos a última garrafa de guaraná, do jeito que eu havia previsto, e rumamos a pé para o posto de troca, pra não evidenciar o desespero e fazer algum exercício. Santo Bonitinho, que me acompanhou nessa saga mesmo ser ter camisa como recompensa, nós só tínhamos tampinhas pra uma camisa, e olhe lá. Chegamos no bendito posto umas 7h40, e já tinha muita fila. Paramos atrás de um rapaz que mais tarde se revelou o maior péla-saco da fila. A fila. Eu já tinha me esquecido o que era uma fila desse porte. Tinha de tudo, velhos, jovens, homens, mulheres, crianças e REVENDEDORES. O começo da fila, eu descobri com os assíduos, eram só revendedores, com sacolas e sacolas de tampinhas (me garantiram que eles em outros dias trocavam sem tampinha nenhuma! Só estavam cobrando as tampinhas dessa vez porque era final da promoção, a fila tava gigantesca, e tal.), trocando por sacolas e sacolas e sacolas de camisas e vendendo tudo pelo TRIPLO do preço, ali na nossa cara, cara dos trouxas, que acreditam que a promoção é uma brincadeira, e que vai ter camisa pra todo mundo. Há. E o pior que que tinha gente comprando. Bom, a troca só começou já eram bem mais de 9h. Começou a maior gritaria, o povo reclamando dos revendedores e os espertinhos querendo furar fila, que a essa altura já virava o quarteirão. Uma loucura. O péla-saco chamou até a polícia, mas claro, a viatura passou e nem parou, tinham mais o que fazer. Os frenqüentadores assíduos da fila iam lá na frente (chamavam as atendentes pelo nome!) e voltavam com as informações. "Hoje vieram 1.000 camisas, veio de todos os modelos, menos as amarelas!" "Acabou a de 58!" (Ai, meu Deus, era uma das que eu queria!) "Ainda tem a verde!" (Ufa! Ainda tem a de 62!). Eu ficava ouvindo as notícias mas a fila pouco andava. Eu já estava ficando desiludida vendo o povo saindo com milhões de camisas, assim não ia sobrar nada pra mim. As notícias continavam: "vai chegar um segundo carregamento de camisas, eles só não sabem que horas, e aí vai ter amarela!" (eu não quero amarela!) "Todo mundo tá querendo a verde!" (tem que sobrar uma pra mim!!!!). Quando faltavam umas 10 pessoas na minha frente, o segurança grita: acabou a verde feminina!!! Pânico. Horas e horas de fila pra aqueles idiotas pegarem todas da que eu queria!!! E eu só queria 1!!! (Eu tava até me sentindo humilhada, até as trocas "caseiras" eram de, no mínimo, 3 camisas.) Já estava quase chorando ou arrancando uma camisa de 62 da mão daqueles camelôs safados quando vi uma camisa branca dentro da caixa gigante cheia de camisa azul (a de 94 tinha quilos e quilos.) e perguntei pro segurança: "Ainda tem a de 58?" Ainda tem algumas femininas, ele respondeu. Meu coração se encheu de esperança novamente: "Será que ainda vai ter na minha vez?" (Ainda faltavam umas 2 pessoas, o péla-saco e a sogra do péla na minha frente) Acho que sim, a não ser que esse rapaz pegue todas antes, respondeu de novo o segurança gente-boa. Respirei fundo, o péla já tinha dito que queria camisas masculinas. Mas eu não sabia nada a respeito das trocas da sogra. E chegou minha vez: "uma feminina de 58, por favor." E a mocinha se abaixou na caixa e logo levantou com a minha camisa de 58. Eu segurei a camisa e fiquei tão radiante, mas tão radiante, que dei um pulo de alegria (tudo bem, eu podia não ter contado isso). Bonitinho riu. Eu saí da fila e tirei minha camisa do plastiquinho, pra checar se estava em perfeitas condições. Yay, Tudo Ok. Eu venci. Fiquei olhando pra ela e até achei que ela era mais legal do que a de 62. Eu tenho uma camisa vintage do Brasil, falei pro Bonitinho com o sorriso de orelha a orelha. Eu tinha que ter a de 58 ou a de 62, eu nunca ia ficar feliz com a camisa de 94... ano mais sem-graça! O Bonitinho me disse que achava a de 58 mais bonita do que a de 62, e que a de 62 todo mundo tem. Eu só vi umas 3 da de 58 na rua. Me convenceu.
EU TENHO A CAMISA DE 58!!!
Voltamos pra casa a pé de novo, mas paramos numa padaria no caminho e tomamos um café da manhã de verdade. Com café, sem guaraná.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que legal esse texto! Daria uma boa crônica!

Que bom que vc conseguiu a camisa, amiguinha! As vezes também me dá umas obsessões assim pra conseguir alguma coisa e eu enfrento até neve na fila!

Beijo! e tomara que sua camisa nova dê sorte pra gente amanhã!

Mrs. Potter disse...

Tá voltando a vontade escrever, Amiga Paula! Isso é uma maravilha...
:o)
Beijos e boa sorte pra todas nós!

Vica disse...

Nossa Senhora, que narrativa!! Beijos.

Anônimo disse...

Vc é uma figura mesmo. Te amo!!!
Amiga Lá